sábado, 23 de fevereiro de 2013

DESIGUALDADE E LIBERDADE


UNOCHAPECÓ
SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
ACADÊMICO: VITOR MARCELO VIEIRA




QUALIDADE DE VIDA, EXPECTATIVA, RENDA, DIREITOS POLÍTICOS E SOCIAIS EM AMARTYA SEN



 O livro explora os significados de liberdade, desenvolvimento e os fundamentos da justiça, para então aprofundar-se em exemplos, casos e análises que demonstram que de fato, a liberdade pode representar muito melhor o nível de desenvolvimento de um povo do que seu nível de riqueza.
Para explicar a importância da informação e dos princípios adotados nas decisões de desenvolvimento, Amartya Sen usa o dilema de Annapurna que busca contratar, da maneira mais correta possível, alguém para limpar seu jardim e considera três candidatos, que executariam exatamente o mesmo trabalho, com a mesma qualidade ao mesmo preço: Dinu é o mais pobre e, considerando que não há nada mais importante de ajudar aos pobres, ele seria a contratação correta. Desta forma, o princípio seria a igualdade econômica
Bishanno empobreceu recentemente e é o mais triste. Portanto, Annapurna considera que ele é quem ficaria mais feliz com o trabalho, já que Dinu e o outro candidato já estão mais acostumados com a pobreza. Neste caso o princípio seria a utilidade e a felicidade. Por outro lado, Rogini usaria o dinheiro para curar-se de uma doença crônica e, apesar de não ser ter tão pobre quanto os outros, é o que mais se beneficiaria da oportunidade. Neste caso o princípio seria a liberdade. A doença limita a liberdade de Rogini em ter uma melhor uma qualidade de vida livre da doença
Baseado nesta parábola, Amartya Sen explica que as teorias econômicas e de desenvolvimento, baseiam-se nos princípios 1 e 2, e, portanto, não consideram que a limitação das liberdades dos indivíduos  devido à falta de justiça e democracia.
Sen elabora sobre o capital humano que trata das habilidades do homem para produzir a importância das capacidades humanas, pois estas são relevantes para: atingir o próprio bem-estar e liberdade, influenciar mudanças sociais influenciar a produção econômica. Além disso, reforça que para se superar a pobreza e, portanto, permitir a todos o pleno uso de suas liberdades e capacidades, são essenciais a Infra-estrutura adequada, especialmente, em educação, saúde e distribuição de terras, regimes democráticos e a garantia dos direitos das mulheres, refletindo diretamente na capacidade de promover a sobrevivência das crianças e de reduzir as taxas de fertilidade. Fatores que impactam na prosperidade econômica, mas também, na liberdade e na qualidade de vida das mulheres, especialmente as mais jovens que tão cedo já precisam prover aos filhos.
Na perspectiva econômica vale ressaltar que: “À medida que o processo de desenvolvimento econômico aumenta a renda e a riqueza de um país, estas se refletem no correspondente aumento de intitulamentos econômicos da população’. Com relação ao aumento do crescimento econômico, é mister estabelecer e dar ênfase as disposições sociais da educação e da saúde com o objetivo de propulsionar esse crescimento. Torna-se injustificável o argumento de que é preciso o país crescer e “ficar rico” primeiro (SEN, 2000, p. 55, 66).
Na análise feita pelo autor é possível perceber o paradoxo que este estabelece em relação à expectativa de vida, na medida em que coloca a situação da Inglaterra na virada do século passado, momento em que se apresenta como a principal economia capitalista de mercado. Nesse período apresentava uma baixa expectativa de vida ao nascer do que a atual expectativa dos países de baixa renda. No entanto ao longo do século a expectativa de vida nesse país aumentou tendo em vista a aplicação de políticas sociais (SEN, 2000, p. 67).
Em síntese a análise do autor direcionou seu foco na expansão da liberdade humana. O fim e o meio do desenvolvimento e o objetivo do desenvolvimento tem relação direta com a avaliação das liberdades reais que são desfrutadas pelas pessoas. Mas há que serem superadas muitas interpretações acerca das disposições sociais, porque os despossuídos possuem uma tendência a se conformar com sua situação pela necessidade de sobrevivência. Conseqüentemente podem não ter a coragem de exigir alguma transformação da realidade. Procuram ajustar seus desejos e expectativas.
  

CRESCIMENTO, RENDA E DESIGUALDADE



O grande movimento que se faz sentir nos aeroportos brasileiros tem incomodado muita gente que percebem que passaram a usufruir, agora sem exclusividade de serviços que antes eram diferenciados. Existe atualmente todo um segmento da sociedade brasileira que teve a oportunidade de viajar de avião pela primeira vez, também agora usufruindo de serviços e lugares antes restritos a poucos com poder financeiro.
Algumas mudanças sentidas na questão da desigualdade no país incomodam os 10% que se encontram no topo da pirâmide social. Está inferido nesta situação, que mudanças estruturais no padrão da desigualdade, devem ser acompanhadas de transformações econômicas, sociais, políticas e culturais. O Brasil, no período da colonização, se encontra atrelado às economias européias. Na época, as grandes fazendas produziam matéria-prima para exportação, permitindo assim aos donos dos meios de produção o controle sobre a terra.
No período colonial brasileiro os escravos mantinham a população economicamente ativa e propiciavam a sobrevivência das classes dominantes, ou seja, “o Brasil nasce sob o signo do trabalho infame”. Para sustentar essa necessidade da produção de matéria prima e vitalizar o capitalismo europeu, durante 3 séculos, 4 milhões de escravos foram trazidos nos navios negreiros.

                               Em síntese, o capitalismo no Brasil estruturou-se a partir da combinação entre ação poderosa e seletiva do Estado, concentrada na esfera econômica; atração de empresas transnacionais para os setores dinâmicos; existência de um empresário nacional, atuando como monopolista nos setores tradicionais ou como subsidiário do capital externo nos demais; amplo contingente de trabalhadores precários e sem direitos, recentemente urbanizados, que pressionavam a nascente classe operária que se configurava em termos nacionais; abertura de fronteiras internas no território nacional, permitindo a elevação da rentabilidade do capital com subsídios públicos; ausência de reformas agrária e urbana em meio a expansão explosiva das metrópoles; existência de uma classe media com altos níveis de renda e de escolaridade; e dependência financeira e tecnológica das economias dos países desenvolvidos, minando uma transformação do capitalismo no sentido de conferir maior autonomia aos centros internos de decisão (BARBOSA, 2012, p. 32).

O debate sobre a questão social no Brasil se estrutura em três vertentes que apontam para vários diagnósticos sobre a pobreza, ligados à ações interventoras. Na visão do governo federal, país desenvolvido deve ser país sem pobreza. Ações interdisciplinares percorrem os ministérios com o objetivo de enfrentar a pobreza extrema, buscando um avanço para além do Programa Bolsa Família. Isso é verificado no lançamento em 2011 do programa Brasil sem Miséria, sendo transformada em bandeira do governo da presidenta Dilma Rousseff.
O combate a desigualdade surge aqui como figura de retórica. Louva-se a queda do índice Gini, (índice usado para calcular a desigualdade e distribuição de renda), mas não se discute as formas da queda da desigualdade nos próximos anos. Mas então qual seria o caso? Continuar com tais ações ou empreender reformas de ordem agrária, urbana, tributária e nas relações de trabalho?
O governo federal, preso numa ampla coalizão política que possui um número considerável de participantes de vertente conservadora, eles próprios beneficiados pela desigualdade, avança pela linha de menor resistência.

                                     A noção de “investir nos pobres” parece adequada, mas estes apenas adquirem maior mobilidade e possibilidade de reinserção social se o combate às várias formas de desigualdade propiciar a abertura de novas posições ocupacionais nos vários pontos do território brasileiro, ressalvadas as suas especificidades. Esta é a agenda dos movimentos sociais brasileiros, os quais vivenciam os dilemas concretos das desigualdades de oportunidades no acesso ao emprego, às políticas sociais e aos direitos básicos da cidadania. Para estes segmentos que convivem diretamente com os negativamente privilegiados, a queda do índice de Gini deve ser vista com cautela, levando a uma reflexão do tipo: “e agora, qual o próximo passo?” (BARBOSA, 2012, p. 45).

No entanto, entre a visão do governo brasileiro, as investidas e iniciativas dos movimentos sociais, existe uma elite tecnocrática que aposta numa sedimentação das desigualdades, conectada com a visão de organismos como o Banco Mundial e de algumas ONGs poderosas do mundo desenvolvido, interessadas em transformar o Brasil, simplesmente numa “estrela global”, pintando o país como um exemplo do sucesso das reformas de mercado, apesar de o Brasil ainda apresentar um dos maiores índices de desigualdades. Na visão dessa elite, o governo deveria simplesmente transferir mais renda para os mais pobres movendo-os para a chamada “nova classe média”, idéia esta que não leva em conta que esses segmentos possuem uma precária inserção no mercado e trabalho e acesso limitado aos direitos sociais e políticos. Sendo assim, predomina uma visão “quantitativa sobre a pobreza, enquanto a desigualdade se explicaria exclusivamente pela baixa escolaridade dos mais pobres” (BARBOSA, 2012, p. 46). Mas fica a pergunta: como oferecer escolas, dignidade, segurança, hospitais que façam justiça em um país tão carente dela?


REFERÊNCIAS

BARBOSA, Alexandre de Freitas (org.). Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores. São Paulo: Outras Expressões, 2012.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

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